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Na série Telefone Sem Fio, o artista Renato Moriconi faz circular um segredo entre personagens ícones da literatura infantil, que normalmente não habitariam o mesmo universo. Telefone Sem Fio, o livro do qual a série faz parte, concebido em parceria com Ilan Brenman, não tem palavras. Cada um que imagine o seu segredo. Porém, todos sabemos que o segredo que chegará no fim não será o mesmo que foi contado no início. É um duplo daquele. Parece, tem algo de familiar, mas é estranho, diferente.

 

Para criar as imagens da série, Moriconi se inspirou no famoso díptico italiano que retrata os duques de Urbino, pintado por Piero Della Francesca entre os anos de 1465 e 1472. Assim como o pintor italiano, Moriconi usou tinta a óleo sobre a madeira, criando um interessante diálogo com a história da arte. Além disso, ao trazer suas criações para as paredes da MACLI, o artista decidiu orná-las com molduras douradas, verticalizando seu diálogo com a obra renascentista, que também se utiliza de moldura dourada.

 

Cada personagem da série de Moriconi possui dois retratos, um de frente e outro de perfil. No livro, tais pares nunca estão juntos, lado a lado. Porém, quando miramos a sequência de originais numa única linha, como quando expostos na parede de uma galeria de arte, esses inúmeros dípticos nos saltam aos olhos. 

 

Em cada uma das montagens da série Telefone Sem Fio, realizadas pela MACLI, optamos por inventar uma nova sequência para as obras. Uma brincadeira que faz com que a série se torne mutante e sua exibição sempre única. Para esta exibição no Sesc Glória, a curadoria decidiu, pela primeira vez, alterar também a distância entre umas e outras obras, isolando e realçando determinados “dípticos”, o que, na opinião do artista, aprofundou a sensação de que existe uma passagem de tempo diferente entre cada uma das vezes em que o segredo é transmitido.  Tal passagem de tempo, Moriconi já insinuava no livro, ao trocar as vestimentas da primeira para a segunda imagem de determinados personagens.

 

Outra diferença que essa montagem traz, em relação ao livro, está na sequência dos originais que não chega a um fim definitivo, como no material impresso e encadernado. Na mostra atual, após o Bobo da Corte receber de volta o segredo que passara no início, Chapeuzinho Vermelho começa novamente a brincadeira, transmitindo um novo segredo para o Pirata. Aliás, essa dupla inusitada está exposta numa parede branca, diferentemente do resto das obras da série, que está alinhada numa parede vermelha. Isso dá ao Chapeuzinho Vermelho e ao Pirata o destaque planejado pela curadoria. Afinal, nada mais estranho que vê-los num mesmo “díptico”. Estranho... mas familiar, posto que são dois velhos conhecidos da literatura para a infância e, portanto, de todos nós.

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